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Reflexão: Jesus se apresenta como um pastor que cuida e dá a vida pelas ovelha

Redação

Aquele que dá o corpo também conduz.


Sobre isso, em um texto que vem completar o Sermão do Pão da Vida, São João apresenta Jesus como o Bom Pastor.  

A imagem do pastor, aplicada a chefes tribais, ao Rei e a Deus, é muito tradicional no Antigo Testamento por conta do cenário agropastoril da região da Galileia, lugar onde Jesus expõe quase a totalidade de suas pregações.


Jesus se apresenta como um pastor que cuida e dá a vida pelas ovelhas. A realidade do pastoreio parece tranquila, com um belo cenário verdejante, com bosques aonde pássaros cantam e o vento sopra; mas não é assim, a realidade é de vida e morte. Uma realidade onde somos sustentados e aparados por aquele que de fende as ovelhas do vale tenebroso.


Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor nem dono das ovelhas, quando vê o lobo chegar abandona as ovelhas e foge. Então o lobo ataca e dispersa as ovelhas. Assim age porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a minha vida pelas ovelhas. Possuo ainda outras ovelhas que não são deste curral. É preciso que eu as conduza; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho com um só pastor. O Pai me ama, porque dou a minha vida, para de novo a retomar. Ninguém a tira de mim: Sou eu mesmo que a dou. Tenho poder de dá-la e o poder de retomá-la. Esta é a ordem que recebi do meu Pai (Jo 10,11-18).


As referências do Antigo Testamento são tamanhas que essa passagem daria um tratado, porém o que mais nos salta aos olhos é a referência ao Sl 23, um dos salmos mais conhecidos e belos de todo conteúdo sapiencial do Antigo Testamento. Vamos utilizar um dos salmos favoritos de todo o saltério:


O Senhor é o meu pastor, nada me falta. Em verdes pastagens me faz repousar. Conduz-me até as fontes tranquilas e reanima minha vida; guia-me pelas sendas da justiça para honra do seu nome. Ainda que eu ande por um vale de espessas trevas não temo mal algum, porque tu estás comigo; teu bastão e teu cajado me confortam. Diante de mim preparas a mesa, bem à vista de meus inimigos; tu me unges com óleo a cabeça, minha taça transborda. Bondade e amor certamente me acompanharão todos os dias de minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias (Sl 23,1-6).


A simplicidade e a riqueza desse salmo de Davi são formidáveis, nos apresenta em duas imagens um número grandioso de símbolos como o pastor (v. 1-4), o anfitrião (v. 5-6), e no versículo central (4) menciona: “Ainda que eu ande por um vale de espessas trevas não temo mal algum, porque tu estarás comigo; teu bastão e teu cajado me confortam”. A imagem do Pastor é desenvolvida com tamanho realismo, a qual é difícil conter a emoção e não relacionar a passagem à nossa vida frágil de ovelha.  


Vamos tentar entrar apenas na literalidade para posteriormente darmos aplicações de espiritualidade: a relva verde como uma fonte, para deitar-se, descansar e recuperar as forças; as trilhas do caminho, o vale ao anoitecer, o cajado que dita o tom do passo no chão de maneira harmônica. O que se diz das ovelhas no salmo vale para o homem no aspecto pessoal: “tu vais comigo”.


Em outro plano o texto vai nos apresentar vários símbolos. A imagem do pastoreio revela: o verde abundante e acolhedor, como relembrando a casa materna e acolhedora. A água mata a sede e suscita energia vital. O caminhar é experiência de radicalidade. A escuridão evoca medo, temor; porém nela se sente abrigo, proteção, amparo. A potência deste salmo não se esgota na primeira leitura.


Voltemos a Jo 10:


O pastor não apenas cuida das ovelhas, ele as conhece. Mais uma vez uma bela referência ao Antigo Testamento, principalmente no profeta Isaías: “Chamei-te por teu nome, tu és meu” (Is 43,1; 43,25). Se Jesus é o Bom Pastor, existem maus pastores que são usurpadores e ladrões, porém a sintonia com a voz do Bom Pastor e a intimidade com o mesmo são características de quem ouve e segue sua Palavra. O Evangelho do discípulo amado vai ilustrar o jogo de vida e morte.

“Eu sou o bom pastor: conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10,14-15).


Lembremo-nos de Davi que, como um pastor paterno, deu a vida por suas ovelhas lutando com feras e depois com o gigante filisteu Golias. Vejamos:


Davi respondeu ao rei Saul Quando o teu servo apascentava o rebanho de seu pai17 e vinha um leão ou um urso que arrebatava uma ovelha do meio do rebanho, eu saía atrás dele, atacava-o e lhe arrancava a ovelha da boca. Se ele me atacava, eu o agarrava pela juba e o matava a pauladas. Fosse um leão, fosse um urso, teu servo o matava; e este filisteu incircunciso terá a mesma sorte porque lançou um destino às linhas de batalha do Deus vivo. Davi acrescentou ainda: O Senhor que me salvou das garras do leão e do urso me salvará também das mãos do filisteu (1Sm 17,34-37).


Não faltaram reis que arriscaram e perderam a vida lutando. Jesus dá a vida de uma maneira soteriológica18, isto é, sua vida é o penhor da salvação eterna. A imagem de Cristo Bom Pastor é prefigurada em Davi, que era um menino, porém destemido, que lutou com feras e com o gigante Golias.


Jesus cumpre o que Davi prefigurou no Antigo Testamento: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Jesus dá sua vida voluntariamente, sacrifica-se. Pedro em sua primeira carta vai fazer um panorama do Bom Pastor, “Para isso fostes chamados, pois também Cristo sofreu por vós e deixou o exemplo, para que sigais os seus passos” (1Pd 2,21). Esse é o bom pastor. Se você quer ser pastor deve ser vítima, eis o cerne do texto.


Um pouco mais à frente no Evangelho omitimos esse versículo na análise, porém o trazemos agora para ser uma chave de leitura, tanto para pastores ministeriais, padres, bispos e religiosos quanto para os leigos e leigas. Uma característica das ovelhas do Senhor é o reconhecimento da sua voz: “Minhas ovelhas ouvem minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27). O versículo é sensacional e demonstra um caráter de intimidade. Quantas vozes ouvimos hoje? Como reconhecer a voz do Senhor em um mundo extremamente ruidoso? A porta larga pode ser indicativo de uma voz que não apascenta e sim perturba; facilidades e fuga dos sofrimentos são antagônicas à mensagem cristã. Uma multiplicidade de vozes, que gritam e nos vendem facilidades com a cultura do “eu mereço”, se afastam do único redil19 e do divino pastor.


O Pastor é o Cordeiro que dá o sangue por suas ovelhas na cruz em sua oferta redentora; o redil é a Igreja, e nós as ovelhas. Diante de tudo isso é necessário que em nossas atividades pastorais nos esforcemos para ouvir a voz do Pastor diariamente, e assim ao seu exemplo dar a vida aos que o Senhor nos confiou e na vida cotidiana.


Para refletir:


A Palavra de Deus é luz e vida, ilumina mentes e salva as almas, vivifica, fortalece, é caminho e bússola para nossos passos.


  • Você é capaz de se recordar das pessoas que trabalharam, que foram “pastores”, para que você estivesse aqui na Igreja hoje? Elas ainda estão na Igreja?

  • Como está a sua participação na comunidade? Tem conseguido manter-se perseverante?

  • Lembra-se de algum amigo(a) ou parente que não está mais participando da Igreja? Já pensou em agir como o bom pastor e promover o retorno da pessoa à vida da comunidade?


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