Senhor Jesus, ainda que mal pergunte:
Por que, sendo tão grande, te fizeste tão pequeno?
Por que, sendo tão rico, aceitaste nascer tão pobre?
Por que, vivendo no céu, te rebaixaste a um estábulo?
Por que, possuindo um trono, quiseste santificar uma manjedoura?
Por que, se vivias rodeado de anjos, quiseste a companhia de animais?
Por que, se eras um com Deus, aceitaste ser mais um com os homens?
Por que, Senhor, se eras onipotente, te encantaste com a fraqueza humana?
Por que, sendo só beleza, te cobriste com os trapos da vida?
Por que, sendo o pão da vida eterna, escolheste para nascer em Belém – a Casa do Pão?
Responde-me: por que não nasceste num palácio? Por que nasceste como uma criancinha indefesa e não como um Deus forte?
Por que escolheste o choro como tua primeira manifestação?
Por que te escondeste tanto que foi preciso uma estrela para que os Magos te pudessem encontrar?
Por que, Senhor, meu Deus, por que tua mãe foi uma escrava e não uma rainha?
Por que teu pai tinha que ser o Espírito Santo? Por que não São José?
Por que tiveste que nascer fora de casa, quase num exílio, sem os cuidados mínimos que quase todas as crian ças têm?
Por que, sendo o que és, quiseste te fazer como nós somos?
E por que, te fazendo como nós somos, não exigiste condições para seres melhor do que nós?
Ah, Senhor, temos tantas dúvidas! Nossa fé parece tão reticente!
Por que teu natal nos suscita tantas perguntas?
Responde-nos! Por que não encontramos respostas para elas?
Queridos irmãos, queridíssimas irmãs:
Não nasci como Deus, porque nascer como gente já é graça demais.
Não nasci grande, porque ser pequeno não é defeito nem desdouro.
Não nasci rico, porque a pobreza é dama de altíssima nobreza.
Não escolhi nascer num palácio, porque quis experimentar o calor dos lugares pequenos e abandonados.
Se escolhi nascer como todo mundo nasce, é porque desejei que todos, um dia, pudessem viver como só Deus vive.
Se escolhi animais como companhia, é porque nem sempre as pessoas se mostram mais dignas do que eles.
Se uma estrela teve que anunciar meu paradeiro, é porque nem sempre os olhos estão abertos para o que a vida tem de bonito.
Se assumi o destino de ser apenas um homem, é porque o destino das criaturas é ser como Deus.
Nasci como nasci para denunciar a sorte de tantas criancinhas que nasciam e continuam nascendo em estrebarias e manjedouras.
Sim, nasci pobre e fraco, pequeno e abandonado, fora de casa e quase num exílio, para que todas as vidas fossem declaradas sagradas.
Meus amigos, em Belém, na “Casa do Pão”, há uma mensagem e uma utopia, uma lição e uma hipoteca que meus seguidores saberão pagar mesmo com o sacrifício de suas vidas.
Senhor Deus, ó Deus Menino:
Escutamos o que dizes, mas não entendemos o que falas.
Nossas perguntas se agarram no vazio e teu nascimento continua a nos intrigar. Tuas respostas são surpreendentes e desconcertantes.
Olhamos para ti e te vemos, mas tuas respostas nos deixam um travo na boca.
Te preferíamos grande e onipotente, rico e coberto de esplendor, aparecendo sobre as nuvens do céu, mas não escondido e relegado a uma estrebaria.
De que mensagem e lição estás falando?
Qual é, afinal, a utopia do Natal?
Ilumina, te pedimos, nossas mentes e fortifica nossa fé e coração.
Queridos irmãos e irmãs: É importante parar diante do presépio para entender sua mensagem e deixar-se cativar por sua ternura. O presépio não é uma armação fantasiosa, mas o caminho de Deus para os homens e para Si mesmo. A lógica do amor de Deus é tal que seria inconcebível e mentiroso vê-lo nascer no palácio de Herodes. Por seu amor, Deus tinha que nascer na pobreza, identificando-se com os destinos humanos mais simples e relegados. A utopia do Natal, por isto, é a da alegria pura, despojada de todo e qualquer artifício de poder. Deus, que é tão rico, não podia escolher a pequena riqueza de um palácio para revelar sua infinita riqueza. Deus, que é onipotente, não podia escolher o poder passageiro de reis e príncipes para mostrar sua majestade. Deus, que criou todos os seres, tinha que nascer como um deles para assim testemunhar que todos são bons, santos e obras suas. Foi por isto que nasci como nasci, de uma mulher, em Belém, numa manjedoura.
É verdade, sendo rico me fiz pobre;
sendo grande me fiz criança;
sendo Deus me fiz homem;
sendo o que sou me fiz o que vocês são.
E sendo o que vocês são, encontrei minha alegria neste mundo.
Confesso-lhes: valeu a pena.
Sim, valeu tanto a pena que quero nascer a cada ano em Belém, numa estrebaria, entre bois e jumentinhos.
Esta é a minha alegria de Deus.
Será que poderá ser também a alegria dos homens e mulheres, de vocês, meus irmãos e irmãs?
Como eu gostaria que os anjos pudessem cantar, a cada ano, nas campinas de Belém, anunciando uma grande alegria para o povo e desejando Paz para todas as nações e pessoas de boa vontade!
Querido Deus, lindo Menino e Príncipe da Paz: Não queremos mais fazer-te perguntas.
Perdoa nossa ousadia e insensibilidade. Queremos, hoje, só adorar-te, dobrar nossos joelhos diante de ti e estreitar-te em nossos braços, contra nosso coração.
Já entendemos, agora, um pouco a utopia do Natal, a mensagem da manjedoura, a lição do presépio.
E assumimos o compromisso de lutar para que nenhuma criança jamais nasça numa estrebaria, que toda casa seja uma Casa do Pão e que Belém seja o ponto de encontro entre o céu e a terra, de Deus com os homens e dos homens com seus irmãos.
Obrigado, muito obrigado por esta noite santíssima e por teu adorabilíssimo nascimento.
Esquece a rudeza de nossas perguntas.
É hora de agradecer, de amar, de rezar.
De rezar a ti, de rezar a Deus Pai e ao Espírito Santo.
Que nossa oração manifeste nossa fé e que nossa fé possa louvar teu nome, revelar a alegria por teu natal e confessar nosso compromisso diante do mistério da vida e do sofrimento dos pobres. Pela utopia do Natal, te prometemos, de novo, lutar para que nenhuma mãe grávida se sinta abandonada e que nenhuma criancinha tenha que chorar entre um boi e um jumentinho. Em louvor de Cristo, menino e Deus. Amém!
Oração: Frei Neylor J. Tonin
Comments